Nenhuma fala é tão reveladora quanto aquela que se anuncia como mentira. Sally finge um orgasmo com a precisão de quem já ensaiou o gesto em silêncio, diante do espelho ou da memória dos outros. Seus gemidos são demasiado perfeitos: ritmados como verso, crescendo em cadência dramática, culminando em um suspiro que até o ketchup na mesa parece ouvir. E, […]
Quem Conta a História Mata o Morto – Uma leitura semiótica de Entre Facas e Segredos: quando o narrador não é confiável, mas o mundo inteiro também não é…
O primeiro plano de Entre Facas e Segredos não mostra um rosto, nem uma arma, nem mesmo sangue. Mostra um relógio. Não qualquer relógio: um mecanismo com engrenagens expostas, em close, girando com precisão quase arrogante. É o tempo de Harlan Thrombey — escritor de mistérios, patriarca, maestro da própria narrativa — ainda funcionando, mesmo quando seu corpo já não […]
O Símbolo que Desaba: O Que a Fusão Netflix–Warner Revela Sobre o Futuro das Histórias
Não foi exatamente um comunicado formal que mudou o eixo da cultura.Foi um rumor — um sopro vago, um eco sem dono — que antecedeu o fato.E quando o anúncio oficial finalmente chegou, soou menos como novidade e mais como a confirmação de algo que o imaginário já havia digerido:a Netflix comprou a Warner Bros. Entre o sussurro e a […]
A Selva Julga: Predador e o Colapso do Herói Moderno
A selva não é um cenário. É um tribunal. Os sete homens que descem do helicóptero em Predador (1987) não entram em combate — entram em julgamento. Suas armas, seus músculos, seus nomes de guerra (Blain, Mac, Billy) são peças de uma encenação já desacreditada. Eles não sabem, mas já perderam. A criatura que os observa do alto não está […]
Predadores e Presas: A Anatomia Simbólica do Preconceito em Zootopia
Não somos mais selvagens.Dizemos isso enquanto monitoramos os outros com o canto do olho, enquanto sorrimos ao cumprimentar e já arquivamos o sujeito em uma gaveta taxonômica: perigoso, incompetente, exótico demais.Em Zootopia, a civilização não é o fim da natureza — é sua tradução em código. Os animais não deixaram de ser o que são; aprenderam apenas a vestir ternos, […]
O Lado Bom do Mal: Subjetividade, Estigma e Encantamento em Wicked
Nenhuma bruxa nasce bruxa. Ela é nomeada. Antes do chapéu pontudo, antes da vassoura, antes mesmo do gato — há um momento em que alguém decide que aquilo não é apenas diferente, mas perigoso. Em Wicked, esse momento não é dramático. Não há trovão, não há pacto com demônios. Há apenas uma criança verde nascendo num mundo que acredita no […]