Há objetos que existem menos pelo que são do que pelo vazio que carregam. A maleta em Pulp Fiction não contém ouro, documentos secretos ou uma cabeça decepada. Não contém nada que os olhos possam fixar. E ainda assim, quando Vincent abre a trava e Jules se ajoelha, algo irradia: uma luz dourada, quase litúrgica, que banha os rostos como […]
Quero Ser John Malkovich – O Corredor de Sete Minutos e Meio: Sobre Corpos Alugados e a Falência do Nome Próprio
Não se entra em John Malkovich.Entra-se através dele — como quem atravessa um espelho que não reflete, mas absorve. O portal no teto baixo do andar 7½ não é uma passagem mágica, mas um diagnóstico clínico disfarçado de piada absurda: o sujeito contemporâneo não mais sofre de não ser reconhecido. Sofre de ser demasiado ele mesmo. Craig Schwartz, marionetista frustrado, […]
Entre o Espelho e a Aranha: O Duplo e a Ditadura em O Homem Duplicado
Nem todo rosto é habitado.Há corpos que andam com licença provisória — ocupados por uma assinatura, um cargo, um silêncio bem-ensaiado.Em O Homem Duplicado, não há confronto entre o eu e o outro. Há substituição.O espelho, antes superfície inerte, torna-se boca: engole o nome, o gesto, a memória. Resta apenas um zumbido — o som de um telefone desligado no […]
O Duelo que Nunca Aconteceu: Cliff Booth, Bruce Lee e a Crise do Herói em Hollywood
Não há sangue ou golpe decisivo. Não há derrota declarada.E ainda assim, em um corredor poeirento dos estúdios, cercado por trailers e pelo zumbido distante de produções paralelas, em Los Angeles, 1969, ocorre um dos confrontos mais violentos do cinema contemporâneo — não pela força dos corpos, mas pela força dos mitos que eles carregam. Cliff Booth (Brad Pitt), com […]
O Lado Bom do Mal: Subjetividade, Estigma e Encantamento em Wicked
Nenhuma bruxa nasce bruxa. Ela é nomeada. Antes do chapéu pontudo, antes da vassoura, antes mesmo do gato — há um momento em que alguém decide que aquilo não é apenas diferente, mas perigoso. Em Wicked, esse momento não é dramático. Não há trovão, não há pacto com demônios. Há apenas uma criança verde nascendo num mundo que acredita no […]
Os Vampiros Mais Estranhos do Cinema: Uma Dança, Um Drink e Uma Caçada
O vampiro não morreu.Foi demitido. Não por falta de fome — ele ainda sente o cheiro do pescoço, ainda conta os batimentos como quem conta moedas — mas porque o gesto perdeu seu peso sagrado. A mordida já não é pecado, nem sedução, nem tragédia: é um hábito mal mantido, como fumar no banheiro de um posto de gasolina às […]