A areia não absorve sangue. Ela o rejeita — forma poças, riachos vermelhos, manchas que escorrem em câmera lenta. E é aí, nesse instante em que o líquido se recusa a ser tragado pela praia, que O Resgate do Soldado Ryan deixa de ser um filme de guerra para se tornar um ato de testemunho. Não há música ao fundo. […]
Frankenstein Não Era o Monstro — Era o Método: A Ética do Desaprendizado em Pobres Criaturas
Ela acorda gritando — não de dor, mas de pura presença. Um grito sem memória, sem culpa, sem gramática. Bella Baxter não nasce: é reativada. Seu corpo, costurado por mãos que confundem criação com propriedade, é uma declaração de guerra travestida de milagre científico. Pobres Criaturas não é um conto de formação. É um ensaio sobre o direito de desaprender. […]
A Derrota do Belo: Por Que as Obras-Primas Não Vendem Ingressos?
Um ensaio sobre linguagem, tempo e a estranha solidão dos filmes que chegam cedo demais. Na sexta-feira de estreia de O Mestre (The Master – 2012), em um cinema de bairro no centro de São Paulo, havia doze pessoas na sessão das 21h.Na mesma noite, a três quilômetros dali, Os Vingadores (The Avengers) lotava sessões consecutivas até a meia-noite — […]
Não É o Fim do Mundo — É o Fim da Crença Nele: Uma Leitura Semiótica de 12 Horas para o Fim do Mundo
Nenhum asteroide cai duas vezes no mesmo lugar — mas o medo sim.Ele retorna em loops de CGI barato, em diálogos que ecoam Armageddon, Independence Day, 2012 — como um disco arranhado cuja música ninguém mais ouve, mas que continua girando por inércia institucional. 12 Horas para o Fim do Mundo, filme russo de 2019 dirigido por Dmitriy Kiselev, não […]
A Selva Julga: Predador e o Colapso do Herói Moderno
A selva não é um cenário. É um tribunal. Os sete homens que descem do helicóptero em Predador (1987) não entram em combate — entram em julgamento. Suas armas, seus músculos, seus nomes de guerra (Blain, Mac, Billy) são peças de uma encenação já desacreditada. Eles não sabem, mas já perderam. A criatura que os observa do alto não está […]
O Campo de Batalha Inteiro é uma Câmera: Fotografia, Testemunho e Indiferença em Guerra Civil de Alex Garland
Uma mulher segura uma câmera. À sua frente, um homem sangra no asfalto. Ela não se ajoelha. Não grita. Ajusta o foco. Esse gesto — quase imperceptível, quase cotidiano — é o cerne de Guerra Civil (2024). Não se trata de uma anomalia ética, mas de uma mutação. A câmera já não é instrumento de denúncia. Tornou-se prótese da sobrevivência: […]